Bloggers e a mídia têm dado atenção recentemente a um caso em que, após realizar uma harmonização facial com um dentista que o havia descaracterizado, um rapaz procurou uma médica para reverter aquilo que julgou ser um equívoco que havia sido seduzido a fazer. Difícil julgar de fora, não é mesmo? Porém, alguns pontos merecem ser levados em consideração:
Ninguém nasce especialista em harmonização facial (ou se torna um em meses ou em 2 anos). O procedimento, que também pode (ou melhor, deve) ser chamado de: MD Codes, de reestruturação 3D da face, de AB Face technique, de volumetria facial, preenchimento global da face ou de beautification, foi desenvolvido por médicos. Aliás, o procedimento foi primeiramente denominado bioplastia, e as principais técnicas (inclusive corporais) foram criadas pelo cirurgião plástico Almir Nácul, o primeiro grande especialista mundial do assunto. Na época, não tínhamos a tecnologia, nem em microcânulas (ele que mandou a indústria desenvolver para os seus planos de tratamento), nem em preenchedores/ bioestimuladores de colágeno que temos hoje. Mas, as técnicas já eram ricas em resultados e buscavam a harmonia facial (ou corporal) de forma individualizada e global.
O médico que atua na área da cosmiatria leva 6 anos pra se formar (embora outros tantos para conseguir entrar nas faculdades, tidas como as + difíceis do país) e de 2-10 para se especializar, e geralmente só se vem a se considerar um master injector com cerca de 15 anos de prática e > 100 cursos/ workshops e congressos na bagagem (foi assim pra mim e para a maioria dos colegas médicos que tratam a face e o corpo para o embelezamento).
Em meio a todos estes aperfeiçoamentos, há sempre uma preocupação com: anatomia e segurança, resultados, individualização, respeito à etnia e ao padrão de beleza do paciente, uma profunda capacidade de análise da proporcionalidade e de outros aspectos da beleza em cada paciente. Além disso, uma busca incessante pelo estado da arte, pelo refinamento da prática, por mais cautela e delicadeza, enfim, um senso estético que vai se apurando tal como o paladar por um vinho raro e especial.
Ao longo deste longo e sinuoso caminho de conhecimento, amadurecimento, aprofundamento artístico e preocupação com o paciente, é que vamos ficando cada vez mais cautelosos, mais longe de padrões e modismos, e próximos da perfeição em nossa prática.
Certamente um caminho bem distante do mercantilismo que alguns, ditos profissionais, se prestam a “empurrar” a pacientes que vêm fazer, digamos, um outro tipo de procedimento e saem dali com “barba, cabelo e bigode” feitos, sem nem saberem por que e como acabaram fazendo isso. E por que não dizer, cabelos íntimos também, haja vista profissionais de outras áreas adentrarem até mesmo esta área tão restrita da medicina.
O mercantilismo é tão démodé e tão diametralmente oposto de um trabalho artístico e individualizado que tem que lançar mão de recursos como luz, postura, maquiagem e caretas para simular resultados melhores que a realidade. Precisamos ser mais questionadores quanto a estes antes e depois de padrões totalmente manipulados mas, acima de tudo, quanto à escolha de profissionais realmente gabaritados para tratar o que estamos buscando.
Pois bem, a escolha é de cada um, mas vale lembrar que a reversão não se dá eficazmente em todos os casos nem tampouco com qualquer preenchedor aplicado. Autoestima e autoimagem são coisas sérias.
Dra Ana Carolina Rocha
CRM-DF 52482
Médica, mestre, doutoranda (UFG) em preenchimentos